S P I R I T U A L B A R E B A C K E R
(sobre a colagem que abre este site)


a tela abre e um pedaço de natureza em desfoco, folhas e galhos, é o frame de partida. as barras de rolagem laterais já sugerem que se trata de uma imagem pretensiosamente maximizada, antipática a qualquer atitude imediatista em totalizá-la, indisponível ao consumidor compulsivo de superfícies: seus amortecedores são palpáveis, sua intenção anacrônica em deter essa mente acostumada à pressa do rolo compressor de informações - sua disposição fenomenal obriga um tilt, uma atitude mais árdua dos olhos. aqui a metáfora do exílio do eden é um utensílio, uma dica flechada contra a intuição de quem está incorporando a imagem no instante: com o suor do teu rosto, com o suor eletrônico nos olhos ganharás o manjar da imagem, presente, lembrancinha, jato de serotonina ou estranhamento puro à queima-roupa - passando por quantas dessas fases forem necessárias inevitáveis imperdíveis, mesmo a primeira fase do olho que dura o click de um like automático, que será sub-repticiamente acrescentado ao caldeirão entrópico do inconsciente coletivo para mais tarde borbulhar num sonho incômodo em pleno cochilo sagrado do horário de almoço do sobrevivente.

em tamanho real maior que as polegadas do ecrâ, já estou avisado: preciso percorrer a imagem aos poucos, conforme a capacidade do ecrâ em oferecer a visão, conforme a capacidade do aparelho óptico em capturar formas só aparentemente estáveis - porque o jogo só acaba de começar. o subliminar não existe, os signos dançam nus com a pele esfoliada. não sozinhos: a confusão reside no seu coito delirante. a leitura a laser dos meus olhos faz que o corpo inteiro se lance na imagem com uma súplica: que ele seja seu estandarte. o olho ambicioso quer ser aquele craque em ricochetear-se por toda a extensão dos pixels. provar, fruir, tomar a imagem como um suco de limão trincando de gelado numa tarde de calor equatorial, gozar múltiplo, transtornar a atividade de todas as glândulas acionadas pela propagação da imagem corpo adentro; o objetivo é uma tentativa de aeróbica entre o nervo óptico e a cola entre as imagens.

aqui a imagem se torna colagem.

a obsessão pela cabeça, cabine de comando, panóptico do limbo das emoções e urna lacrada que contém o motor do corpo, a obsessão por ter um rosto reconhecível e legível faz surgir o que não se decide por simétrico ou assimétrico semblante, a cara do avatar atacada de fractais, recortes bruscos mixados a suaves sinuosidades sincronizadas. chafariz de espelhos, vaca silhuetada, o recorte grosseiro dos seus componentes não impede que as imagens se mesclem numa imprevista apoteose afrodionisíaca. a outra face oferecida. disponível por tempo indeterminado.

mamilos são antenas de mamíferos? essas feras ansiosas no cio soltando pólen e palavras de baixo calão? o cursor se arrasta um pouco mais pela vertical e descobre o corpo esticado pelas grades. realmente não é claro em que fase estamos: supermedievais anarcomodernos / antiescolásticos transgênicos / poliniilistas fiéis / contrapontescos misantropiedosos / ex representantes da patriarcapitalismetástase / poliglotas pitorescos do circo dos solipsistas / um exército de bebês de proveta / partners of crime and love and ego and ego again. o corpo é um arranha céu ignorando as legendas. desesperadamente se alonga e quer chegar no centro da terra. com as grades derretidas.

há muito os braços abertos aparecem no campo de visão. não se trata de uma paródia do crucificado, mas do seu bem-sucedido curto-circuito nos anais da história eleita. há uma eleição, uma seleção dos elementos participantes, protagonistas, figurantes ou fantasmas: mesmo os atingidos pela borracha do poder que tenta apagar seus vestígios, o que é seu está guardado. bem ali mesmo no centro da terra.

que ridículo falar de tão fundo em plena virulência dos touchscreens. virulência dos touchscreens, sinto um prazer formidável em ser rebuscado assim. faz parte do capotamento mágico e, na minha redação de férias deste mundo, faz que imagine uma árvore das sephirot cujos pontos são nossos mamilos!

já está de sobreaviso: querem a cabeça desse abusador de ídolos, querem a cabeça abstrata e a couraça de carne crua do seu cérebro encardido.

seu antípoda consumidor de água de conserva; que gafe a do histriônico hipócrita! não consegue dar totalmente a descarga. agora ele sabe que pode fechar todas as janelas do seu dócil lar, avançar com todos os dentes linchando os malditos e o fluxo das aberrações que elegera como tal. hoje seus esforços em isolar o leproso dos muros da cidade são risíveis. no canto do seu dedo mindinho a mesma abominação pulsa fresquinha antes de raiar voluptuosamente em furúnculo.

assim meu corpo se degringola sofisticadamente diante da colagem, com uma súplica: que ele seja o responsável por sua pirataria. daqui ele consegue ver a corcunda do espaço configurado, a convulsão topológica dos elementos dispostos no tabuleiro perecível da beleza superestabelecida. os mamilos que cercam o umbigo são satélites nutrindo o esgoto materno da Mãe Internet. o amor, sob a forma de enunciado, transforma a colagem em miração.

aqui me perco nos movimentos sinestésicos do spiritual barebacker. ele esganiça contra o holofote do plantão de notícias: EU SOU O PESADELO DIÁRIO DE SILAS MALAFAIA. já não estou falando mais dos aspectos formais da colagem, porque é exatamente isso que acontece: a gana da colagem me desengana. seu vórtice transverbal. a mesma pergunta repetida sem descontinuidade, que história é essa? no mesmo tom do infiel pego em adultério. que história é essa?!

é a biografia da lama dos unicórnios.

a esse ponto tudo vira uma bola de papel de jornal amassada. não importa que tecnologia esteja envolvida. se a arma é branca, se a violência é apenas verbal. tantos assassinatos, tantos rostos criados pelo ácido. tanto ódio acumulado aos pés do salvador. spiritual barebacker é o meu, com seu manto coruscante me protege da criatividade do conservador. esta é a história da lama dos unicórnios, que exatamente agora será transformada em areia movediça para engolir a tênia que te habita e te garante a normalidade dos gestos e quereres.
eu

te

batizo

nessas

cintilâncias.